Vocês não poderiam me chamar de um bebê chorão. Eu posso dizer que estou fazendo birra, ou até mesmo biquinho, mas eu estava deixando minha vida! Ainda estou com raiva de o meu pai ter tido sua "crise de meia idade" e se mudar para uma cidade pequena que eu nem sei o nome!
Eu estava deixando minha vida na Califórnia, eu sei que não tenho muitos amigos, na verdade, eu só tenho uma, Margaret, ela é uma pessoa especial. Somos amigas desde o Jardim de infância. Ela pode ser meio preguiçosa, ou até mesmo meio durona, ela é como a melhor amiga de todo mundo. - Anne, vem, precisamos ir! - Ouço do meu quarto meu pai me chamando. Hoje é o dia da mudança, e eu não quero ir.
- Estou indo, pai! - Grito de volta pegando minha bagagem de mão. Abro a porta de casa, vejo que meu pai está colocando algumas malas no porta-malas e logo avisto uma ruiva indo a minha direção, mas não é uma ruiva qualquer, é Margaret. Posso ver seus olhos azuis cheios de lágrimas, podia perceber que ela estava tentando não chorar. Vê-la daquele jeito me faz chorar também, e logo dou um apertado abraço nela. - Eu vou sentir sua falta. - dizia ela choramingando. - Eu também! - digo chorando mais do que estava chorando. - Sinto muito meninas, mas Anne está na hora de ir. - Disse meu pai. Afasto-me dela e dou um aceno de tchau. Vejo ela se afastar e finalmente deixar suas lágrimas caírem.
Entro no carro, e me sento no banco de trás. Estou de braços cruzados agora. Isso é tão injusto. Só porque ele não tinha uma "vida" aqui, não significa que eu tenho que deixar a minha.
A viagem não é muito longa, mas também não é muito curta, durou mais ou menos 3 horas que eu posso ver que estamos em outra cidade quando vejo uma grande placa escrito "Bem-vindo a Skygrooove".
A cidade era assustadora, posso ver umas pessoas nos encarando pelo vidro do carro. Aqui parecia ser uma cidade que parou no tempo. Será que aqui tem internet? Espero que sim.
Logo avisto a nossa nova casa. Ela era enorme. Vejo meu pai parar o carro e logo sair do mesmo indo direção ao porta-malas. - Anne, vem me ajudar descarregar algumas coisas. - disse meu pai. - Claro - respondo saindo do carro indo a direção do porta-malas. Pego uma das caixas que levamos no carro para não quebrar no caminhão de mudanças. Enquanto estou indo a direção da casa, vejo uma sombra escura na janela. É uma figura preta. Começo a sentir calafrios, era como se ela estivesse me observando. Era assustador. - Pai, tem alguém na casa? - digo olhando para meu pai, que está carregando uma das malas. - Hãn? - Diz ele em um tom confuso. Olho novamente para a Janela, e não vejo mais ninguém. Acho que só estou paranoica.
Abro a porta da casa e bate um vento frio e gelado. Aqui é sinistro. A Casa era mais assustadora por dentro do que por fora. Sinto-me observada, sinto que aqui não é um bom lugar pra ficar. A porta bate atrás de mim, e logo dou um pulo de susto, meu coração volta a bater ao normal quando percebo que é só o meu pai. Dou um suspiro de alivio. - Algum problema? - pergunta meu pai. - Não, eu só... Pai, eu acho que não é um bom lugar pra morar. Tenho um péssimo pressentimento sobre essa casa. - Digo com a esperança de que ele concorde comigo e não só pra sairmos dessa casa assustadora, mas também como posso voltar pra minha antiga vida. - Querida, só porque você não queria se mudar, não significa que não irá acontecer boas coisas nessa casa. - diz ele indo a direção da escada. Era óbvio que ele não iria concordar.
Sigo meu pai subindo as escadas, e logo ele entra em um quarto, que era mais assustador que toda a casa. - Aqui é seu quarto - dizia ele com um grande sorriso no rosto. Ele não sentia nada estranho aqui? Apenas balanço a cabeça concordando antes que eu tenha mais uma das longas discussões com meu pai. Logo ele me deixa sozinha no quarto. Se em plena a luz do dia esse quarto era assustador, imagina a noite? Viro-me e vejo que há um espelho ali. O Espelho parecia ser antigo, mas na verdade, tudo aqui era antigo. A Maioria dos móveis já era da casa, já que a maioria das pessoas que se mudam aqui, são tão apressadas pra sair, que deixam todos os móveis. Isso é estranho. Aproximo-me do espelho, e me vejo. Estou como sempre. Logos cabelos castanhos escuros, e pele pálida. Eu odiava minha pele. Eu parecia uma doente, ou que não via o sol há anos. Apenas vou em direção á porta pra ajudar meu pai a descarregar algumas coisas e arrumar a casa.
É noite agora. Estou exausta. Arrumei praticamente a casa inteira sozinha ela é enorme! Subo as escadas cambaleando de cansaço, abro a porta do meu quarto e logo fica paralisada. Vejo aquela mesma figura que vi na janela. Mas por enquanto era só uma figura nada sólida. Dou uns passos pra trás, até que bato minhas costas na porta. E de repente ela some. É como se ela nunca estivesse existido. Balanço minha cabeça pra afastar todos os pensamentos. Apenas estou cansada e só podia ser minha sombra também. Deito na cama e logo durmo. Uma noite sem sonho.
Acordo mais cansada que antes. Eu sentia que fui atropelada centenas vezes por centenas de caminhão. Levanto da minha cama e me olho no espelho. Estou o mesmo, quer dizer, tirando que eu estou parecendo um zumbi. Mas eram as mesmas coisas. Mesmo olhos escuros, mesmo cabelo, mesma pele... Não. Havia algo diferente. Mas não em mim, e sim no espelho. Tinha uma rachadura no meio dele. Não estava lá ontem. Tenho a burrice de encostar o dedo na rachadura do espelho fazendo cortar meu dedo indicador. Que burrice a minha. Agora ele está sangrando.
Desço ás escadas a procura de um curativo. - Anne, tem algo de errado? - dizia meu pai que estava sentado na mesa da cozinha tomando seu café matinal e lendo um jornal. Acho que ele é o único que ainda lê jornal. - Não nada. É só que... Tinha uma rachadura no espelho e eu encostei... - logo meu pai interrompe. - Um dia na casa e já rachou o espelho do quarto? Que ótimo - dizia ele ainda encarando o jornal. - Não, ele estava rachado assim que eu acordei. Ontem não estava assim. - digo. - Hum, eu vou ir lá ver. - dizia meu pai levantando da cadeira. - Ah, pai. Eu vim aqui pra saber onde tá o kit de primeiros socorros. - digo em voz baixa. - Ah, está ali - dizia ele apontando para um dos armários da cozinha. Meu pai foi na direção das escadas pra olhar o espelho rachado. Eu consigo achar um Band-aid no kit e coloco no meu dedo.
- Anne, vem aqui agora! - vejo meu pai gritar comigo do meu quarto. Subo ás escadas correndo indo á direção do meu quarto e vejo meu pai olhando ao espelho. - O Que houve? - digo em tom de preocupação. - Onde está a rachadura? - diz ele friamente. - O que? Mas estava... - digo indo a direção ao espelho. Ele tinha toda razão, não tinha nada. - Mas estava ai, eu juro! Porque eu iria mentir sobre isso e machucar meu dedo de propósito! - digo em um tom alto. - Querida, eu sei que você não gosta daqui. Mas inventar que a casa é assombrada só pra irmos embora? - dizia ele em uma voz decepcionada. - Mas pai eu...- logo sou interrompida novamente. - Cadê aquela garota estudiosa, boazinha, responsável e madura? - dizia ele com um olhar triste. Ela ainda tá aqui pai, mas eu não sou infantil ao ponto de cortar meu próprio dedo e inventar coisas sobre essa casa. Mas eu sei que tem algo de errado nessa casa, só que meu pai nunca iria acreditar. - Desculpa. - digo cansada, porque não queria começar outra discussão. - Desculpas aceita. - Dizia ele me abraçando.
Fecho a porta de casa atrás de mim. Ontem quando cheguei não tive tempo nenhum pra sair e ver o que tem. Tudo que encontro é necessário. Uma pequena mercearia, uma padaria e até uma lanchonete. Nada de um shopping. Sinto falta dos ótimos shoppings da Califórnia. Enquanto estou andando, perto do que acho que é um parque, sou acertada na cabeça com algo duro. Foi forte o bastante pra eu perder o equilibro, mas consigo retomá-lo. Quando olho, fui acertada por uma bola de futebol. - Desculpa! - dizia um garoto alto, loiro vindo em minha direção. Ah, mas que azar. Porque ele tinha que vir tentar falar comigo? Eu sou tímida demais. Não importa que garoto seja, eu não consigo falar nem três palavras sem gaguejar ou falar coisas ridículas e embaraçosa. - Ah, o quê? N-Não, eu não deveria ter deixado minha cabeça onde você ia chutar a bola - digo com um tom em que eu nem reconheço. E mas uma vez me faço de idiota. A culpa é dele, não minha! Mas eu sou tonta demais, ou até muito boazinha pra culpar alguém. - Você não precisa se culpar. - dizia o garoto alto. Eu dei um susto quando ele começou a falar, porque me afoguei nos meus pensamentos e esqueci que ele estava ali. - Eu sou Cameron. - dizia ele estendendo a mão pra mim. Quando abri a boca pra dizer meu nome, vi um garoto mais alto vindo a nossa direção. Diferente do Cameron, ele tinha cabelos pretos e olhos verdes. - Ei, Cameron, achou a bola? - disse o menino gritando. - Ah sim, eu só estava me desculpando com a... - disse o Cameron olhando pra mim esperando uma resposta. - Ah, Anne. - digo normalmente pela primeira vez. - Olá, Anne - disse o garoto mais alto. - Eu sou Tyler - o garoto alto respondeu. - Foi um prazer conhecer vocês, mas eu tenho que ir. - digo tentando inventar uma desculpa pra me mandar daqui. Não sei nem como ainda não desmaiei, ou falei mais besteira do que o normal tentando falar com dois garotos ao mesmo tempo. - Vejo você por ai - dizia o garoto loiro. Apenas ando em direção ao caminho pra casa.
Quando chego em casa, não vejo sinal do meu pai. Vou à cozinha e percebo que em cima do balcão há um papel. “ESTOU INDO AO PIQUINIQUE COM A VIOLET, VOLTO A NOITE. BEIJOS, PAI.” Ótimo, agora estou sozinha aqui. Violet é uma amiga que ele conheceu no trabalho, mas eu realmente duvido que eles sejam amigos por tanto tempo.
É noite agora. Estou deitada ao sofá, assistindo TV. Não passa nada de interessante. Por isso estou vindo um filme idiota de uma menina tentando ser popular na escola e o mesmo de sempre.
Enquanto estou deitada, vejo um barulho vindo da cozinha. Era o barulho de um vidro quebrado. Vou á cozinha tentando ver a causa do barulho. Quando vejo, era apenas um copo que estava na beira do balcão. Dou um suspiro de alívio. Só que eu o dei cedo demais. Todas as portas dos armários se abrem, e tudo que tinha dentro estava caindo agora. Era um barulho terrível, como o barulho de vidros se quebrando infinitamente. Minha cabeça começa a doer, e como se não fosse piorar a dor, ouço gritos. Gritos horríveis de uma criança. Corro pra sala com cuidado para não pisar nos cactos de vidros que estavam espalhados por toda cozinha. O Grito fica cada vez pior, minha cabeça está latejando de dor. Fica na posição fetal no chão da sala. – Para! Por favor, para! – grito na esperança de pararem. Nada acontece. Sinto que o grito fica pior, e minha dor também. Quero fazer algo, mas eu não posso. Os gritos estão cada vez pior, não dava pra pensar em nada. A Energia caiu e eu sei que não é só coincidência. – Para! Para! – continuo a gritar.
Logo tudo volta ao normal. As luzes voltam e os gritos param. – O que aconteceu aqui? – ouço uma voz irritada. A Voz era reconhecível. Era a voz do meu pai. Quando levanto, percebo que meus pés estão sangrados. Provavelmente por causa dos cactos de vidros que eu achei que não pisei. Encontro lágrimas nos meus olhos. E a dor nos meus pés está insuportável. Talvez eu não tivesse sentido antes por causa dos gritos que bloqueavam qualquer sentido ou pensamento. – O que houve com você? – disse meu pai novamente em um tom preocupado. Se eu respondesse, ele não iria acreditar. – Você fez isso tudo só por causa da droga da Califórnia – disse ele em um tom muito mais estressado. Não digo nada, só vou ao meu quarto.
Quando abro a porta, vejo aquela figura novamente. Mas ela era sólida agora. E tinha um rosto. O Rosto era de um homem por volta de 40 anos. Olhos escuros e sombrios e um sorriso assustador. Eu correria agora se meus pés não estivessem sangrando. Ele desaparece. E quando isso acontece, o vento sopra por todo o quarto.
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